Coluna do Betinho: Kafunga é referência do tempo que passou, Kafunga é sinônimo de Atlético, Kafunga é atual | OneFootball

Coluna do Betinho: Kafunga é referência do tempo que passou, Kafunga é sinônimo de Atlético, Kafunga é atual | OneFootball

In partnership with

Yahoo sports
Icon: Fala Galo

Fala Galo

·30 April 2025

Coluna do Betinho: Kafunga é referência do tempo que passou, Kafunga é sinônimo de Atlético, Kafunga é atual

Article image:Coluna do Betinho: Kafunga é referência do tempo que passou, Kafunga é sinônimo de Atlético, Kafunga é atual

Por: Betinho Marques Foto: Reprodução / Globoesporte / Arquivo pessoal

Sinônimo de referência do tempo, por quase 20 anos, o guarda-valas Olavo Leite Kafunga Bastos (1935 a 1954) é uma porção mais que rica da história do Atlético. Falar do niteroiense de 1,77 m, ágil, sagaz e poeta sarcástico, que se radicou em BH, é identificar boa parte da essência atleticana.


OneFootball Videos


Kafunga viveu tudo que um atleticano vive no sentir. Foi titular, foi reserva e trabalhou para retomar o posto, se superou e compensou a falta de altura com agilidade, foi líder de grupo, esteve no auge, tomou peru, foi criticado, falhou e riu de si mesmo, mas, acima de tudo, não aceitou a condição da derrota ou adversidade. Kafunga era exemplar em dedicação ao trabalho e ao Atlético.

NO HINO AS FAÇANHAS

Ao longo da sua trajetória, o arqueiro atleticano viveu épicas conquistas narradas no hino de Vicente Mota. Kafunga foi Campeão dos Campeões em 1937 – título que foi homologado como o primeiro título Brasileiro em 2023 – e foi Campeão do Gelo (1950), conquista que possui conotações históricas e de grande simbolismo.

O Alvinegro fez uma campanha diplomática tão importante e vitoriosa em campos europeus que a delegação foi recebida na volta para BH por cerca de 50 mil pessoas. Uma verdadeira festa da Massa que crescia muito. A capital mineira na época tinha cerca de 350 mil habitantes.

NOS TEMPOS DE KAFUNGA

Quando alguém quer se referir a algo muito antigo, sempre surge em Minas Gerais o “isso é de mil novecentos e Kafunga”. Em sua última entrevista, em 1991, Kafunga deixou claro que não era dessa época, que já não estava entendendo o futebol, até porque, no seu tempo ele jogava e ainda trabalhava vendendo até mesmo títulos de capitalização ou fazia algo que não deixasse o esporte ser sua fonte de renda principal.

O goleiro atleticano, depois de parar de jogar, passou por várias atribuições e funções no Galo. Além disso, Olavo Leite foi vereador por várias legislaturas, mas se destacou mesmo como cronista esportivo, se tornando referência em Minas Gerais. Foi aí que surgiram grandes bordões e que eram identificados pelo público. Um deles pode ser pinçado a qualquer momento para quase tudo, basta apertar o play. Segundo Kafunga, “no Brasil o errado é que é certo”

Kafunga foi magistral e bem descrito pelos colegas como um goleiro emblemático do Galo, mas quem pensou que na imprensa não seria tão excepcional se lascou. Efusivo, dono de expressões únicas, o irreverente comunicador não era adepto aos “scripts” e se não fosse para ser natural ele “sacaneava”.

SEM PAUTA PROGRAMADA

Certa vez, a produção deixou instruções de pauta para Kafunga, mas o indomável Sr. Olavo leu até as entrelinhas: “Kafunga, ler três vezes”. Em épocas de ditadura militar, várias vezes falas mais “desbocadas” ou “desalinhadas” do mito atleticano fizeram alguns programas saírem do ar. Mas, em tempos de VAR, nada seria tão legítimo como a aprovação do gol em um bordão ainda muito lembrado quando não havia dúvidas sobre a legalidade de um tento.

Era assim: “não tem coré-coré, gol barra limpa”

Kafunga recebeu o apelido pelo nariz avantajado e o incorporou em tudo. Kafunga foi Campeão do Galo, do Gelo e Campeão dos Campeões. Kafunga foi sinal de um tempo de amor ao futebol, mas antes de morrer declarou que Ricardo Teixeira e o futuro do esporte não seria compreensível para ele que era de “outra geração”, até porque no Brasil o errado é que é certo.

Em 1991, na sua passagem, foi homenageado com a bandeira do Atlético e com o pesar de milhares de torcedores de um tempo que teima em existir, resistir e persistir. Somos de mil novecentos e Kafunga.

Como o tempo se confunde com Olavo Leite Kafunga Bastos, não há consenso sobre o número de jogos de um dos maiores símbolos da história do Galo. Mas isso é menos relevante do que contar que Kafunga é um pedaço COLOSSAL do Atlético, da crônica mineira, de Minas Gerais.

KAFUNGA, BOMBRIL E GILLETTE

Kafunga é metonímia como Bombril e Gillette, referência. Kafunga é onomatopeia do barulhar com inteligência e irreverência atemporal, referência genuína de mineiros que falam com as mesmas mãos daqueles que conquistaram o Gelo, que foram Campeões dos Campeões do Brasil, que perderam a titularidade, que a reconquistaram, mas que fincaram raiz na história do Clube Atlético Mineiro e, por isso, por serem humanos autênticos, se tornaram representantes de um tempo e de um povo.

Quando o atleticano pensar no Atlético e em sua junção com o tempo, lembre-se: desde os tempos de Kafunga, por Kafunga e após Kafunga que vieram e virão outros Mãos de Onça, Sinvais, Joãos Leites, Victors e Eversons… Mas, para todo o sempre, que nunca deixem de lembrar de Olavo Leite Bastos, atleta campeão, cronista de destaque e, simplesmente, referência do tempo que nem mesmo a gente vive e ele já previu.

SCOTLAND YARD

Em 1948, quando o Atlético perdeu a final do Mineiro para o América, a peleja fora apitada por um inglês de forma contestada pelos Alvinegros. Em um dado momento, o árbitro lhe disse que não havia ladrão na Inglaterra. Sem pestanejar, Kafunga rebateu:

“Se na Inglaterra não tivesse ladrão não precisaria da Scotland Yard”

És atleticano? Então, agradeça, reverencie e ensine aos descendentes que Kafunga é imortal, não tem coré-coré. Kafunga é atual.

Galo, som, sol e sal é fundamental

Ficha Técnica Olavo Leite Bastos Apelido: Kafunga Nascimento: 07/08/1914 Niterói (RJ) Falecimento: 17/11/1991 Belo Horizonte (MG)

Títulos: Campeão dos Campeões – 1937 Campeão do Gelo – 1950 Campeão Mineiro (10x) – 1936, 1938, 1939, 1941, 1942, 1946, 1947, 1950, 1952 e 1953

Jogos: 335 – Fonte: Galo Digital O site Canto do Galo registra 435 jogos. Há quem diga que Kafunga tenha, até pelo tempo (quase 20 anos e média de jogos/ano) e dificuldade dos registros, mais jogos que João Leite que fez 684.

Curiosidades – Kafunga também foi treinador “tampão” do Galo por algumas oportunidades entre os anos de 1961 e 1962. – Roberto, filho de Kafunga, foi preparador físico Campeão Brasileiro de 1971 ao lado de Telê Santana.

View publisher imprint