Gazeta Esportiva.com
·19 December 2024
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O ano era 2016. O professor Samuel Ongaratto, responsável pela disciplina de empreendedorismo e inovação e coordenador da incubadora da Universidade Católica de Pelotas, no Rio Grande do Sul, se preparava para mais um dia de trabalho. Seus alunos Jean Quadro e Marcelo Machado, porém, estavam certos de que uma ideia ousada poderia mudar os rumos de sua carreira.
“Os sócios que compõem a empresa eram alunos, trouxeram uma ideia meio maluca de desenvolver um site de acompanhantes. No início gera aquele medinho. Será que se colocarmos em prática essa ideia, vão me chamar no futuro para festas de crianças ou para ser padrinho do filho de alguém? Fato é que hoje temos 400 colaboradores”, disse Samuel Ongaratto em entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva.
A Fatal Model, plataforma de acompanhantes, tem ganhado projeção no cenário nacional por meio do futebol. A empresa detentora do site gerou repercussão com patrocínios a clubes do País, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste, justamente pelo tipo de serviço que oferece. O crescimento exponencial da companhia fez com que os sócios passassem a mirar cada vez mais alto. A tacada mais recente foi a tentativa de apoio ao Corinthians, segundo clube mais popular do Brasil, se dispondo a bancar o salário milionário do francês Paul Pogba.
“É importante entender que a Fatal Model não é uma empresa, é um produto de uma software house, que desenvolve market place, páginas de internet, aplicativos para celular. Somos nerds que desenvolvem softwares, não somos cafetões virtuais”, garantiu Samuel.
Atualmente a Fatal Model mantém contrato de patrocínio com dez clubes brasileiros. O Vitória é o representante da marca na Série A, mas o site também apoia a Ponte Preta, Paysandu, Brusque, CRB, Vila Nova, Amazonas, CSA, ASA e Penedense.
Desde que surgiu a notícia de que a Fatal Model estaria disposta a bancar a contratação de Paul Pogba, muitos questionamentos surgiram sobre as intenções da empresa e se ela teria musculatura financeira suficiente para arcar com os vencimentos altíssimos do jogador, especulados entre R$ 3 a 4 milhões mensais.
Samuel Ongaratto e seus sócios garantem que nunca tiraram um pró-labore desde que iniciaram a empresa, reinvestindo tudo o que lucraram com as operações desde o primeiro dia. No ano passado, a Fatal Model teve uma receita bruta de R$ 70 milhões e a expectativa para esse ano é praticamente dobrar para R$ 130 milhões.
Com um faturamento atual de mais de R$ 10 milhões mensais, a Fatal Model comprometeria cerca de 40% de suas receitas bancando Pogba no Corinthians. O clube, porém, preferiu não aceitar a oferta.
“Se fosse a Nike que oferecesse de R$ 3 a 4 milhões para o Corinthians, será que ele aceitaria? Então, não sei, fica esse debate. Não gostaria de responder, nem cabe a gente responder, mas é um questionamento que a gente pode pensar sobre. Não somos agenciadores, isso é importante destacar. Nosso faturamento não vem da intermediação de compra e venda de serviços sexuais, o que fazemos é vender anúncio, exatamente o que os jornais fazem há muito tempo. A diferença da Fatal para o jornal é que na Fatal tem foto”, pontuou Samuel Ongaratto.
Comprometer 40% do faturamento mensal da companhia custeando Pogba no Corinthians é uma estratégia de Samuel e seus sócios. Com planos de internacionalizar a Fatal Model nos próximos anos, levando a marca para a Europa, nada melhor que ligá-la a um dos maiores clubes do Brasil e a uma estrela internacional, campeã do mundo com a seleção francesa.
“Se é impossível investir 40% da remuneração da empresa nisso? É possível, porque é uma startup e para nós seria importante, porque se associar a um clube que tem mais de 30 milhões de torcedores, um jogador internacional como Pogba, seria um divisor de águas para o nosso marketing, ainda mais em um momento que estamos internacionalizando a plataforma. Agora, é óbvio que teríamos que tomar decisões do que deixar de fazer para encaixar esse custo no nosso fluxo de caixa”, pontuou.
Na última quarta-feira a Fatal Model se tornou a maior doadora da vaquinha para a quitação da Neo Química Arena. A empresa doou R$ 200 mil ao Corinthians, o que gerou ainda mais repercussão e simpatia por parte dos torcedores alvinegros.
“Não é uma forma de ganhar a torcida, acabou de sair uma enquete, eles fizeram uma enquete perguntando o que achavam de o Corinthians ter a Fatal Model como patrocinadora. Mais de 60% aprovaram. Com os que ficaram em dúvida chegamos a 80% de aprovação. Não precisávamos comprar a torcida, para ser bem sincero. Essa doação foi mais um gesto de carinho para com a torcida e de respeito ao clube do que qualquer outra coisa”, afirmou Samuel Ongaratto.
Apesar de não ter topado o patrocínio da Fatal Model para viabilizar a contratação de Pogba, o Corinthians mantém uma relação com a empresa há algum tempo, exibindo sua marca, por exemplo, no estádio.
“Não estamos caindo de paraquedas no Corinthians, estive no Parque São Jorge em agosto deste ano, discutimos possibilidade de investimento em propriedades do uniforme, essa negociação não foi adiante, e desde 2022 somos clientes do Corinthians, compramos os leds da Arena do Corinthians. Se o Corinthians não nos quer hoje, continuaremos à disposição do Corinthians e indo bater na porta do Corinthians e de outros times ao longo do tempo”, completou o empresário.
A empresa tem apostado em parcerias com clubes de diferentes regiões do Brasil (Foto: Ivan Verrengia / Fluorite / divulgação Fatal Model)
Uma das metas de Samuel Ongaratto e seus sócios é seguir quebrando barreiras no mercado do futebol. A empresa ainda enfrenta dificuldades para ter entrada em alguns clubes do País, sobretudo os de maior expressão. Neste ano a Fatal Model também abriu conversas com o São Paulo, mas a diretoria tricolor, assim como a corintiana, preferiu não avançar nas tratativas, temendo atrelar a imagem do clube a uma plataforma de acompanhantes.
“Cansei de chegar para conversar com o presidente e o cara esperando um cafetão. Ele olha pra mim e fala ‘Não, tu não é dono da Fatal, não parece ser’. Quanto maior o time, mais complexo é isso. Mas, a gente é bastante teimoso aqui na Fatal. Vamos continuar fazendo esse trabalho de formiguinha, conversando com os times, tentando mostrar nosso mercado, nosso propósito, como nos comportamos, que é de uma maneira muito profissional. Nossas publicidades são respeitosas”, afirmou.
O empresário também questiona a falta de critério dos clubes, muitos deles patrocinados por casas de apostas, cujas publicidades, segundo ele, podem ser bem mais abusivas.
“É mais fácil discutir nudez em uma publicidade de bebida alcoólica ou de bet do que da Fatal. Não fazemos nem convite para acessar o site. Trabalhamos com os clubes batendo na porta, se apresentando, chamando para conversar. Alguns não se disponibilizam, outros conversam, querem o patrocínio, mas tem que fazer a discussão com seus comitês, o que é algo desafiador também.”, prosseguiu.
Para 2025, o plano de expansão da Fatal Model continua. Além de ter a internacionalização da marca no radar, os sócios miram o patrocínio de mais um clube de Primeira Divisão.
“Nesse próximo ano queremos buscar mais um clube na Série A. Temos o Vitória, que é bastante importante para a gente, queremos manter, e ampliamos sempre como podemos. Os clubes de Série B, Série C, muitas vezes a gente também faz um patrocínio por uma questão de análise territorial, como está os acessos naquela região, como está a marca naquela região, vamos também por esse critério”, concluiu Samuel Ongaratto.