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·25 de março de 2025

Empresa cotada para biometria na Arena é rejeitada pelo compliance e tem dono ligado a atleta da base do Corinthians

Imagem do artigo:Empresa cotada para biometria na Arena é rejeitada pelo compliance e tem dono ligado a atleta da base do Corinthians
  1. Por Daniel Keppler e Larissa Beppler / Redação da Central do Timão

A menos de três meses de expirar o prazo para implementar a biometria facial na Neo Química Arena, o Corinthians ainda não escolheu uma empresa para executar e gerir o serviço. O tema ganhou força em meio à crise envolvendo a gestão do Fiel Torcedor e as denúncias de irregularidade na plataforma, desvios de ingressos e aumento do cambismo. No entanto, o que poderia ser uma nova ferramenta de combate a esses problemas também se tornou fonte de dor de cabeça para a torcida.

Isso pois, segundo diferentes apurações publicadas recentemente, a atual gestão estaria inclinada a contratar a empresa Ticket Hub como fornecedora da tecnologia, contrariando recomendação do compliance alvinegro. O departamento apontou uma série de riscos ao negociar com a empresa e seu dono, o empresário Bruno Balsimelli, conforme consta nos relatórios emitidos pelo departamento e que a Central do Timão obteve com exclusividade.


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Foto: José Manoel Idalgo/Agência Corinthians

Ticket Hub: altíssimo risco

O relatório de “Due Diligence PJ” do compliance do Corinthians sobre a Ticket Hub foi emitido em 27 de agosto de 2024, e evidencia o alto nível de alerta em relação à empresa. Isso porque o documento começa apresentando o score concedido pelo departamento: 98,25. Como a escala indica que quanto mais próximo de 100, pior a avaliação, pode-se afirmar que a rejeição à contratação da companhia é praticamente absoluta.

Um dos principais motivos para uma conclusão tão negativa do compliance está diretamente relacionado a Bruno Balsimelli, controlador de 100% da Ticket Hub. A análise do departamento alvinegro revelou que o empresário é parte passiva em diversos processos judiciais, um alerta grave, que será detalhado ao longo da explicação do próprio relatório nesta matéria.

Além disso, o relatório apresenta dados sobre a empresa, que foi fundada há apenas quatro anos com um capital social de R$ 100 mil, mas registrou um faturamento estimado entre R$ 4,8 milhões e R$ 10 milhões. Seu CNPJ (32.649.091/0001-87) está regular, e seu CNAE (7990-2/00) está vinculado à área de reservas e turismo (“Serviços de reservas e outros serviços de turismo não especificados anteriormente”).

O documento também menciona o relacionamento societário da Ticket Hub com outras empresas por meio de Balsimelli, como a Ingresso Fácil, a United Arena e a Arena Castelão Operadora de Estádio, e não identifica débitos fiscais e tributários, não constando como restrita no CEIS (Cadastro de Empresas Inidôneas e Suspensas), CNEP (Cadastro Nacional de Empresas Punidas) e TCU (Tribunal de Contas da União).

O compliance ainda atestou o baixo valor dos processos aos quais a Ticket Hub responde atualmente com seu CNPJ: apenas R$ 15.945, sendo R$ 9.145 como parte passiva. Todos os três processos ativos são de natureza cível/administrativa, sem registros criminais, tributários ou trabalhistas.

Bruno Balsimelli: pendências judiciais

O relatório de “Due Diligence PF” referente a Bruno Balsimelli também apresentou uma análise bastante negativa, atribuindo-lhe um score de 86 (lembrando que, quanto mais próximo de 100, pior a avaliação). Emitido em 27 de agosto de 2024, o documento do compliance aponta questões ainda mais preocupantes do que as relacionadas à Ticket Hub, identificando uma série de red flags (sinais de alerta) em relação ao empresário.

Balsimelli possui participação em 16 empresas, das quais nove estão ativas, abrangendo diversos segmentos, como indústria digital, construção civil, serviços administrativos e financeiros, bens de capital, operação de estádios e agenciamento de atletas. Ao longo de sua atuação nessas companhias, o empresário acumulou uma dívida tributária de R$ 2,3 milhões, conforme apontado no relatório do compliance corinthiano.

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A primeira grande red flag do relatório, no entanto, aparece na análise dos processos em que o empresário figura como parte passiva, totalizando 23 ações, cujo valor somado chega a R$ 50,8 milhões. Desses processos, 16 são de natureza cível/administrativa, seis são criminais e um é trabalhista. Ainda há outros oito processos trabalhistas diretamente vinculados ao CPF de Balsimelli, também como parte passiva, cujas causas somam R$ 244 mil.

Outra grande preocupação levantada pelo compliance guarda relação com empresas de Balsimelli que possuem CNAEs secundários, que frequentemente são identificados em investigações de lavagem de dinheiro. Além disso, entre as 16 empresas citadas no documento, pelo menos uma apresenta situação irregular no Sintegra (Sistema Integrado de Informações sobre Operações Interestaduais com Mercadorias e Serviços).

Polêmicas da BWA

Algumas das empresas citadas no relatório trazem em seus nomes a sigla BWA, uma referência a Bruno e seu irmão Walter, que atuam no segmento de confecção de ingressos desde 1987. Entre 1998 e 2000, por exemplo, a BWA recebeu R$ 8 milhões da Federação Paulista de Futebol pela gestão de catracas e impressão de ingressos magnéticos para jogos no estado. Na época, o vínculo gerou polêmica, pois Bruno integrava o Conselho Fiscal da entidade enquanto prestava serviços a ela.

As reclamações sobre a qualidade do serviço, no entanto, aumentaram à medida que a carteira de clientes dos Balsimelli crescia. A Ingresso Fácil, uma das empresas do grupo, chegou a ser alvo do Ministério Público e de órgãos de defesa do consumidor, que investigaram queixas relacionadas à escassez de pontos de venda disponíveis para os torcedores e à insuficiência de catracas nos estádios, o que causava filas e tumultos.

A dupla também se viu envolvida em polêmicas ao longo dos anos. Em 2008, por exemplo, seis pessoas foram presas em um escândalo no Coritiba, no qual funcionários usavam equipamentos da BWA para duplicar ingressos de jogos do clube. No entanto, a empresa sempre negou sua participação no esquema. Foi também nesse ano que o Palmeiras rompeu com o grupo, alegando falhas na operação de venda de ingressos.

Já em 2009, a Polícia Civil do Rio de Janeiro deflagrou a operação “Gol de Mão”, que apreendeu oito mil ingressos de um jogo entre Flamengo e Grêmio, no Maracanã. Na ocasião, Bruno Balsimelli admitiu a possibilidade de funcionários terem cometido fraudes ou atuado como cambistas, mas garantiu que sempre denunciava qualquer irregularidade assim que tomava conhecimento.

O Corinthians também se envolveu em polêmicas com a BWA. Na final do Campeonato Paulista de 2009, cerca de cinco mil ingressos falsos foram comercializados. A BWA se defendeu, afirmando que havia apurado um número menor de ingressos falsificados e alegando que esses bilhetes não foram comercializados em seus pontos de venda.

Contra-indicação do TI

Em matéria publicada recentemente pelo ge.globo, o ex-chefe de TI do Corinthians Marcelo Munhoes também falou sobre a empresa, revelando uma série de apontamentos que fez à diretoria alvinegra sobre por que a Ticket Hub não deveria, sob nenhuma hipótese, ser a escolhida para operar a logística de acesso da Neo Química Arena.

Além da reprovação tática do compliance, foram informados motivos como: sobrepreço de 30% em relação à concorrência, com valor total podendo ultrapassar os R$ 10 milhões/ano; reputação ruim no mercado; problemas no passado ao trabalhar com o Corinthians; presença atual em apenas um clube no estado (Santos), que estaria insatisfeito; ausência de suporte técnico adequado à necessidade do Corinthians e incapacidade de prover aplicativo que substitua o Universo SCCP.

Outros problemas relatados dizem respeito ao modelo de negócios da Ticket Hub, que atua como “guarda-chuva” de outras duas empresas responsáveis por diferentes serviços: NewC e BePass. A BePass, inclusive, foi criticada por apresentar problemas com a tecnologia de reconhecimento facial implementada em outros clubes.

Presença na base

Por fim, uma questão levantada durante a apuração da Central do Timão diz respeito à base alvinegra. Isso pois uma das empresas de Bruno Balsimelli é a Unique Sports & Marketing, cuja atividade econômica é centrada na intermediação e agenciamento de serviços e negócios em geral, exceto imobiliários. E um de seus atletas está no Corinthians: o meia Luiz Eduardo, de 17 anos.

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O jogador se transferiu em maio de 2024 do Água Santa, clube com o qual o Corinthians estreitou laços na atual gestão, a partir da nomeação de Marcos Boccatto, presidente de honra da equipe de Diadema, ao cargo (recém-criado e remunerado) de Superintendente de Novos Negócios e Esportes Olímpicos do Timão.

Graças à função de confiança que ocupa, Boccatto é frequentemente visto ao lado do presidente Augusto Melo em importantes eventos do Corinthians, como, por exemplo, a reunião do clube com a Caixa Econômica no ano passado, onde foi debatido o pagamento da Neo Química Arena.

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Em relação a Balsimelli, no entanto, sua participação na base com os direitos de Luiz Fernando pode se tornar um entrave para a contratação da Ticket Hub. Isso porque a situação pode ser interpretada como um possível conflito de interesse, uma vez que uma mesma pessoa atua no Corinthians tanto como agente quanto como fornecedor, o que pode violar as normas internas do clube.

Por fim, vale lembrar que, no contexto do anúncio da “Operação Ingresso Legal”, voltada para combater o cambismo, o Corinthians negou estar negociando com a BWA. No entanto, todas as apurações afirmaram – e continuam afirmando – que o interesse é em negociar com a Ticket Hub, o que é corroborado pelos relatórios emitidos pelo compliance do clube, há sete meses.

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